quinta-feira, novembro 04, 2010
No Communication
Ou nas palavras do poeta e jornalista brasileiro Mário Quintana, "com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros."
Ouçamo-nos então.
sábado, outubro 23, 2010
The Rope
segunda-feira, outubro 18, 2010
The Golden Age
Há dias em que só faz sentido conduzir sem parar, sentir o sol reflectido através do vidro e o vento na cara.
Somos livres.
domingo, outubro 17, 2010
Os Segredos nos seus Olhos
"He ran to the end of the train and watched as her figure, once gigantic, now shrank in his eyes, but grew more than ever in his heart. "
Benjamin Esposito, in "The Secret in Their Eyes"
Somos educados para a rigidez de sentimentos. Bombardeados por catálogos que nos dizem o que podemos sentir na estação da vida que atravessamos, como que avisando para os seguros constrangimentos de andar descoordenado com as tendências dominantes.
Neste jogo pré-preenchido tendemos a esquecer os segredos que se escondem no nosso olhar, no olhar daqueles com quem nos cruzamos, obliterando qualquer hipótese de nos ligarmos. Caminhamos demasiadas vezes com o olhar parado, sem correr riscos, ignorando sensações viscerais em troca de uma falsa sensação de domínio e conforto.
O que fica no meio de tudo isto? A condenação a viver no passado e a repisar interna e subrepticiamente as oportunidades perdidas em troca de um vazio, tão confortável nas suas grilhetas feitas em série, a combinar com as vidas de catálogo de tantas cópias de pessoas que por aqui circulam. O paradigma do sentimento de pertença como veículo de infelicidade normalizada e docemente dormente.
Não. Eu não quero ter de chocar com alguém para ter a certeza que estou vivo. Não. Eu rejeito este catálogo, já lá vivi, aprisionado e viciado no controlo que me permitia ter, inebriado pelo reconhecimento exógeno de algo que devia permanecer intrinsecamente selado e bacteriologicamente puro.
Ao invés, quero atingir aquele nível de fragilidade em que estou permeável à beleza inesperada e despida da vida, à absorção de tudo o que signifique algo, por muito singelo que seja. Aquele ponto em que sou capaz de estabelecer uma verdadeira troca com alguém de carne e osso, com contradições, receios e vida a correr-lhe nas veias. Aquele cenário onde as defesas estão em baixo e não temos vergonha de tocar os outros.
Deixar algo de nós em outrem, construir algo, marcar e ser marcado. Ser e não simplesmente existir.
Esta é a meta que cada vez mais optamos por descurar.
Não mais. Hoje não.
terça-feira, outubro 12, 2010
Cassius Clay
domingo, outubro 10, 2010
Árvores Dançantes em F menor
Troveja, o chão fervilha por entre a chuva e a pressão do alcatrão. Vejo árvores a esvoaçar à frente dos meus olhos e a velocidade do meu caminho não permite que as identifique ou distinga.
O som da impassível realidade ainda ecoa. O constrangimento perante a inexorabilidade do destino traçado e o olhar impotente trocado ainda queima o presente.
Encerra-se um capítulo, levantam-se fileiras, recontam-se espingardas e percebe-se que a guerra nunca passou sequer da sala de estratégia. Uma das partes nunca teve intenção de a ganhar. Nunca foi firme, nunca ousou.
Lá fora, o céu começou entretanto a ceder. Ironicamente, permitiu que alguns raios de sol fugissem, instalando uma falsa sensação de paz.
Escolhas. Sonhar ou quebrar.
segunda-feira, outubro 04, 2010
A superfície
segunda-feira, setembro 27, 2010
O outono da cidade
Chega o Outono à cidade, vejo-o através da janela do meu esconderijo diurno.
Embalado pelo ríspido latejar das janelas, sinto uma incontrolável vontade de o abraçar, um entusiasmo quase pueril que me apressa em transpor a porta de segurança para a rua.
Caminho com um sorriso fixado que não sei explicar mas que me limito a saborear. Observo o que me rodeia.
O frio envolve lentamente Lisboa por entre as esquinas de cada avenida, por entre o fumegar de um cigarro e o entrelaçar de um cachecol improvisado. O escurecer tem outro peso, anunciando o fim do dia com gravidade, acordando-nos para o mundo que vive lá fora, mais luminoso mas também mais discreto atento o maior peso de cada movimento, escolhido sob um critério apertado e exigente.
Vejo almas jovens, rotinas robotizadas, andares decididos e passos perdidos. A boca de uma mulher de meia-idade trava um solilóquio improvisado num banal café, inalando lentamente um cigarro. Esta imagem prende a minha atenção enquanto sigo focado no meu destino.
Estas são as imagens que esta cidade alimenta, devoradora nos seus sentidos, manipuladora no seu querer. Esta cidade faz-nos querer chamá-la de nossa, de lhe sentir a vertigem. O seu canto não nos deixa indiferente, nem aos mortos-vivos que nela abundam como a mulher amorfa que vi. A cidade, caprichosa, devolveu-lhe ingloriamente todos os desejos e expectativas que nela havia depositado, lançando, sem pudor, a seta da frustração e desilusão.
Vislumbrei outros rostos que reflectiam sucesso, luta e glória mas tenho de confessar que continuo sem conseguir esquecer a beleza melancólica daquele bafejar dorido e lento...
O Outono chegou à cidade.
domingo, setembro 26, 2010
O Perímetro do que sou
In "Stalker", de Andrei Tarkovski
Depois de um longo interregno, entendi que devia voltar a escrever. Não que não tivesse vontade antes mas por sentir as minhas fileiras cerradas, em modo de batalha, não me consegui motivar-me a fazê-lo. Parecia-me despropositado e perigoso agitar os fantasmas que havia guardado num baú velho e ferrugento.
Nestes últimos meses, a adrenalina esteve sempre nos píncaros do que o meu coração aguentava e o mundo encarregou-se de me distrair de mim próprio. Essa é a minha maior mágoa: sinto que perdi uma parte de mim porque estive sempre centrado em algo que me englobava mas que, simultaneamente, sugava a minha individualidade.
A beleza do que desejamos exerce, por vezes, uma monstruosidade inerente à sua força que corrompe, tritura e modifica o nosso espaço e presença quotidiana sem, contudo, deixar-nos sequer suspeitar desse facto. Camuflada, avança sobre nós, inebria-nos com o seu cantar enquanto nos aprisiona leve e suavemente...é tão doce essa prisão que não desconfiamos nem nos opomos, ainda que fugazmente.
Quando a cortina desce, agarramos a nossa vida ou ficamos presos no passado, ora repetindo a história passada, ora vagueando e cercando algo que se dilui, independentemente da importância que tal assumiu e do ímpeto que aí deixámos.
Escolho avançar, escolho-me a mim, não obstante guardar com carinho todas as vitórias e derrotas, individuais e colectivas, por que passei.
Assim, é necessário agora traçar novamente o perímetro do que sou. Este é um dos primeiros passos.
O giz avança já inexorável sobre o chão duro, tendo coberto uma área considerável. A porta de embarque foi transposta com sucesso e oiço-me novamente.
A mim e à fricção entre o meu ser e o mundo exterior, a seiva da árvore da vida que me alimenta os sonhos.
A viagem já começou porque só o presente encerra as chaves para o futuro que desejo.