"He ran to the end of the train and watched as her figure, once gigantic, now shrank in his eyes, but grew more than ever in his heart. "
Benjamin Esposito, in "The Secret in Their Eyes"
Somos educados para a rigidez de sentimentos. Bombardeados por catálogos que nos dizem o que podemos sentir na estação da vida que atravessamos, como que avisando para os seguros constrangimentos de andar descoordenado com as tendências dominantes.
Neste jogo pré-preenchido tendemos a esquecer os segredos que se escondem no nosso olhar, no olhar daqueles com quem nos cruzamos, obliterando qualquer hipótese de nos ligarmos. Caminhamos demasiadas vezes com o olhar parado, sem correr riscos, ignorando sensações viscerais em troca de uma falsa sensação de domínio e conforto.
O que fica no meio de tudo isto? A condenação a viver no passado e a repisar interna e subrepticiamente as oportunidades perdidas em troca de um vazio, tão confortável nas suas grilhetas feitas em série, a combinar com as vidas de catálogo de tantas cópias de pessoas que por aqui circulam. O paradigma do sentimento de pertença como veículo de infelicidade normalizada e docemente dormente.
Não. Eu não quero ter de chocar com alguém para ter a certeza que estou vivo. Não. Eu rejeito este catálogo, já lá vivi, aprisionado e viciado no controlo que me permitia ter, inebriado pelo reconhecimento exógeno de algo que devia permanecer intrinsecamente selado e bacteriologicamente puro.
Ao invés, quero atingir aquele nível de fragilidade em que estou permeável à beleza inesperada e despida da vida, à absorção de tudo o que signifique algo, por muito singelo que seja. Aquele ponto em que sou capaz de estabelecer uma verdadeira troca com alguém de carne e osso, com contradições, receios e vida a correr-lhe nas veias. Aquele cenário onde as defesas estão em baixo e não temos vergonha de tocar os outros.
Deixar algo de nós em outrem, construir algo, marcar e ser marcado. Ser e não simplesmente existir.
Esta é a meta que cada vez mais optamos por descurar.
Não mais. Hoje não.
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