José Fontinhas nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia da Beira Baixa situada entre o Fundão e Castelo Branco, filho de uma família de camponeses. José Fontinhas veio a tornar-se numa das maiores referências da poesia portuguesa na persona de Eugénio de Andrade, poeta falecido há 2 anos.
Eugénio de Andrade era, para mim, um poeta das sensações, do que nos corre pelas veias, do amor silencioso, do que escondemos de nós próprios e, acima de tudo, das esperanças que guardamos, fazendo-nos crer que o mundo não é vazio e oco.
Em póstuma homenagem, aqui fica um poema do mestre:
O Amor
Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.
A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
Obrigado Eugénio de Andrade e até sempre!
sábado, setembro 29, 2007
sábado, setembro 22, 2007
How To Fit In
Quanto maior é a caixa, mais leva.
As caixas vazias levam tanto como as cabeças vazias.
Muitas caixinhas vazias que se deitam numa grande caixa vazia, enchem-na toda.
Uma caixa meio-vazia diz: "Ponham-me mais."
Uma caixa bastante grande pode conter o mundo.
Os elefantes precisam de grandes caixas para guardar uma dúzia de lenços de assoar para elefantes.
As pulgas dobram os seus lencinhos e arrumam-nos com cuidado em caixas de lenços para pulgas.
Os sacos encostam-se uns aos outros e as caixas levantam-se independentes.
As caixas são quadradas e têm cantos, ou então são redondas e têm círculos.
Pode empilhar-se caixa sobre caixa até que tudo venha abaixo.
Empilhe caixa sobre caixa, e a caixa do fundo dirá: "Queira notar que tudo repousa sobre mim."
Empilhe caixa sobre mim, e a que está em cima perguntará: "É capaz de me dizer qual de nós cai para mais longe quando caímos todas?"
As pessoas-caixas vão à procura de caixas e as pessoas-sacos à procura de sacos.
Poema de Carl Sandburg, um poeta americano genial
As caixas vazias levam tanto como as cabeças vazias.
Muitas caixinhas vazias que se deitam numa grande caixa vazia, enchem-na toda.
Uma caixa meio-vazia diz: "Ponham-me mais."
Uma caixa bastante grande pode conter o mundo.
Os elefantes precisam de grandes caixas para guardar uma dúzia de lenços de assoar para elefantes.
As pulgas dobram os seus lencinhos e arrumam-nos com cuidado em caixas de lenços para pulgas.
Os sacos encostam-se uns aos outros e as caixas levantam-se independentes.
As caixas são quadradas e têm cantos, ou então são redondas e têm círculos.
Pode empilhar-se caixa sobre caixa até que tudo venha abaixo.
Empilhe caixa sobre caixa, e a caixa do fundo dirá: "Queira notar que tudo repousa sobre mim."
Empilhe caixa sobre mim, e a que está em cima perguntará: "É capaz de me dizer qual de nós cai para mais longe quando caímos todas?"
As pessoas-caixas vão à procura de caixas e as pessoas-sacos à procura de sacos.
Poema de Carl Sandburg, um poeta americano genial
domingo, setembro 02, 2007
Crash
Crash(1996)
Realizador: David Cronenberg
Com: James Spader, Holly Hunter, Deborah Kara Unger, Elias Koteas, Rosanna Arquette
Em 1996, David Cronenberg chocou o mundo com a sua adaptação
cinematográfica da obra de J.G. Ballard, onde comportamentos sexuais desviantes e acidentes de viação auto-provocados andam de mãos dadas.
James Ballard (James Spader), produtor de anuncios para televisão, e Catherine Ballard (Deborah Kara Unger) cultivam uma relação matrimonial emocionalmente vazia que comunga das infidelidades de ambos. Estamos a falar de uma geração invadida pela ideia plasmada na cultura moderna que a forma mais perfeita e transcendente de comunhão entre dois seres humanos se atingia através do sexo. É aterrorizante descobrir que nem sexualmente eles conseguem sentir, os olhos de ambos estão distantes, indiferentes, vazios.
James vê-se envolvido num acidente de viação quase fatal com a Dra. Helen Remington (Holly Hunter) e, na sua estadia hospitalar, conhecem Vaughn (Elias Koteas), um homem que lidera uma subcultura composta por sobreviventes de acidentes de viação, uma subcultura onde reina a obsessão pelas experiências quase-morte em automóveis e a busca desesperante de adrenalina aliada ao poder sexual que dos acidentes resulta.
As personagens vão sendo atraídas para este submundo onde se encenam desastres famosos, como o que vitimou fatalmente James Dean, e se veêm em grupo filmes de crash test dummies e de acidentes de viação como se de filmes eróticos se tratassem. No entanto, as personagens descobrem que nem assim conseguem renovar o sentir e sair do vazio onde se encontram, sinal do novo mundo em que vivemos.
Crash mostra que a sociedade actual está conceptualizada de uma forma fria, distante e previsível, promovendo a busca de sensações incessante até ao ponto em que já nada nos pode satisfazer, dada a saturação de experiências, muitas delas demasiado fáceis de alcançar. Consequentemente, é preciso pisar o risco e sentir a vertigem do precipício para nos sentirmos vivos.
Este filme é uma chamada de atenção para o mundo actual que nos está a corroer, para a esterilidade das reproduções mecânicas que constituem a nossa rotina, cada vez mais isolada e distante da natureza e das pessoas.
É uma obra tremenda que custa digerir mas que nunca desocupará o nosso imaginário.
Realizador: David Cronenberg
Com: James Spader, Holly Hunter, Deborah Kara Unger, Elias Koteas, Rosanna Arquette
Em 1996, David Cronenberg chocou o mundo com a sua adaptação
cinematográfica da obra de J.G. Ballard, onde comportamentos sexuais desviantes e acidentes de viação auto-provocados andam de mãos dadas.
James Ballard (James Spader), produtor de anuncios para televisão, e Catherine Ballard (Deborah Kara Unger) cultivam uma relação matrimonial emocionalmente vazia que comunga das infidelidades de ambos. Estamos a falar de uma geração invadida pela ideia plasmada na cultura moderna que a forma mais perfeita e transcendente de comunhão entre dois seres humanos se atingia através do sexo. É aterrorizante descobrir que nem sexualmente eles conseguem sentir, os olhos de ambos estão distantes, indiferentes, vazios.
James vê-se envolvido num acidente de viação quase fatal com a Dra. Helen Remington (Holly Hunter) e, na sua estadia hospitalar, conhecem Vaughn (Elias Koteas), um homem que lidera uma subcultura composta por sobreviventes de acidentes de viação, uma subcultura onde reina a obsessão pelas experiências quase-morte em automóveis e a busca desesperante de adrenalina aliada ao poder sexual que dos acidentes resulta.
As personagens vão sendo atraídas para este submundo onde se encenam desastres famosos, como o que vitimou fatalmente James Dean, e se veêm em grupo filmes de crash test dummies e de acidentes de viação como se de filmes eróticos se tratassem. No entanto, as personagens descobrem que nem assim conseguem renovar o sentir e sair do vazio onde se encontram, sinal do novo mundo em que vivemos.
Crash mostra que a sociedade actual está conceptualizada de uma forma fria, distante e previsível, promovendo a busca de sensações incessante até ao ponto em que já nada nos pode satisfazer, dada a saturação de experiências, muitas delas demasiado fáceis de alcançar. Consequentemente, é preciso pisar o risco e sentir a vertigem do precipício para nos sentirmos vivos.
Este filme é uma chamada de atenção para o mundo actual que nos está a corroer, para a esterilidade das reproduções mecânicas que constituem a nossa rotina, cada vez mais isolada e distante da natureza e das pessoas.
É uma obra tremenda que custa digerir mas que nunca desocupará o nosso imaginário.
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