Eugénio de Andrade era, para mim, um poeta das sensações, do que nos corre pelas veias, do amor silencioso, do que escondemos de nós próprios e, acima de tudo, das esperanças que guardamos, fazendo-nos crer que o mundo não é vazio e oco.
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Em póstuma homenagem, aqui fica um poema do mestre:
O Amor
Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.
A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
Obrigado Eugénio de Andrade e até sempre!